A arte contra-ataca

A ideia de levar a arte para áreas de conflitos, alguns históricos, como a região do Oriente Médio, é do artista plástico Vitor Rodrigues Machado (autor da obra ao lado), morador de Campinas, interior de São Paulo. Esse desejo veio à tona à época dos ataques reivindicados pelo Estado Islâmico, em Paris, em novembro de 2015.

"É uma decisão muito foda porque te coloca em um lugar de grande risco e acho que é isto também que me motiva, essa adrenalina. A ideia é pintar em escombros. A ideia também é sugerir uma pintura universal". Confira alguns trechos da conversa:

Eli Fernandes - O que te mobiliza a querer viajar o mundo para levar arte às regiões de guerras e outros tipos de conflitos?

Vitor Rodrigues Machado - O que me mobiliza é o coração. É a vontade de fazer alguma coisa que está dentro do meu limite. Dentro do que eu sei fazer, que eu fiz a vida inteira, e que á arte. É isso que me mobiliza. O que me mobiliza é o meu sentimento puro, de amor.

Eli - Como você considera que a arte pode afetar os corações e mentes nessas regiões?

Vitor - O que eu sei fazer é pintar. Então eu quero pintar para muita gente ver. Hoje eu pinto para pouca gente ver. Ou para alguém que nunca viu. Ou para alguém que está precisando ver. Não importa. É sentimento mesmo. Mas eu creio que o artista sempre quer que sua arte toque a pessoa que está ali. Evidência naquilo, né? Que muita gente vai ver. Eu acho que dependendo da ideia é legal mobilizar muita gente mesmo para este canal, este veículo, pode vincular um fotógrafo junto. Eu e um fotógrafo entendeu? O projeto é este.

Eli - Você acha que a arte poderia diminuir os conflitos?

Vitor - Eu já pensei nesse projeto milhões de vezes. Mas ele veio à tona como explosão de sentimento, não só por causa de grandes tragédias, mas pelo que a gente está vivendo mesmo. Te digo a partir de agora o seguinte: Fiz muita coisa na minha vida. Morei na Bahia um tempo. Eu acho que tenho um estilo próprio de pintura. Eu vivo disso. Vivo bem no Brasil. Eu pago minhas contas ... Mas fora isso, não é por isso que eu quero pintar, não. Mas é por sentimento. Eu quero uma coisa diferente na minha vida com quarenta anos. E diferente no sentido de tocar diferente as pessoas ... Pintar na favela é magnífico, mas estamos no Brasil, eu já fui em várias favelas a minha vida inteira. Minha irmã, por exemplo, tem projeto social envolvendo moradores de favelas.

Eli - Mas insisto, você considera que esta ação poderia reduzir os conflitos?

Vitor - Eu acho que pode diminuir os conflitos e que o meu conflito pelo menos pode diminuir (risos)... Mas u acho que pode sim. Com certeza. Por que não? Com certeza que pode. A arte muda mesmo a concepção de muita coisa. Muda mesmo que por um segundo. Por um segundo, por uma hora, por uma vida. De repente ali, um segundo é uma vida, então já mudou. Então, a pergunta é foda. Mas eu acho. Esta é a minha opinião. Meu contato com arte na favela começou com a minha irmã, a Lara Rodrigues Machado, que hoje é professora de dança na Universidade da Bahia, dança afrobrasileira. Começou com capoeira, primeiro contato. E depois com dança e fazendo a cenografia para os espetáculos dela. Trabalho desde os meus 12 anos pintando.


   O artista plástico Vitor Rodrigues Machado:
    "A ideia é pintar em escombros"

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