O MACARTISMO NA ESCOLA
Recentemente
o jovem vereador Fernando Holliday, um dos dirigentes do MBL, visitou
algumas escolas de São Paulo, com a finalidade de verificar suas
condições de funcionamento e fiscalizar as posturas dos professores em
sala de aula, para detectar tentativas de doutrinação ideológica dos
alunos.
Não
se trata de atitude isolada, arroubo de vereador novato que precisa
mostrar serviço. Essa ação do vereador contextualiza-se num movimento de
grupos de direita, fortalecidos pelo golpe jurídico-parlamentar de
2016, que intenta sufocar ideias de esquerda, que esses grupos chamam de
ideologia comunista e de gênero. No âmbito escolar, tal movimento se
expressa pela organização autodenominada “escola sem partido” que assume
a responsabilidade de combater a contaminação político-ideológica
promovida por “militantes travestidos de professores”, em todos os
níveis do ensino.
Os principais pressupostos desse movimento são:
A
questão que se coloca, ante a truculência dos saudosos da Guerra Fria,
que querem ressuscitar o ambiente de perseguição e destruição de
reputações e carreiras construído pelo senador McCarthy na década de
1950, nos Estados Unidos, com o mesmo pretexto da contaminação das
ideias comunistas, é o que lhe podemos contrapor? Óbvio que os
pressupostos desse movimento não resistem ao debate nos meios
acadêmicos, mas, podemos observar que possuem alguma penetração na
comunidade escolar. Desde professores que tendem a justificar seu
imobilismo político por uma suposta neutralidade inerente ao seu
trabalho, até familiares preocupados com o distanciamento dos filhos em
relação aos valores e ideias incutidos no lar, não necessariamente só
por “culpa” da escola.
Devemos
contrapor exatamente o que é da essência do ato de educar: o debate. A
escola tem de se abrir à comunidade, não só em ocasiões de festa junina,
formaturas, etc., mas também para discussão de seu trabalho. O
professor tem liberdade de cátedra, mas, isso não elide a sua obrigação
de discutir com a comunidade o seu trabalho, suas opções pedagógicas e
políticas. Do mesmo modo, as famílias também têm liberdade de ter seus
valores e posições ideológicas, mas também passíveis de discussão no
debate. Se escola e família são parceiras na educação das crianças e
adolescentes, nada pode ficar fora da discussão. Ninguém pode se
proteger na recusa ao debate de ideias. É a negação da possibilidade de
educar. Em relação ao que, como professores, ensinamos na escola e, como
pais, queremos que nossos filhos aprendam para serem pessoas donas de
suas próprias vidas, ou seja, cidadãs, não podemos confundir o processo
de ensino aprendizagem com inculcação de valores prontos, escritos nas
estrelas, mas, construídos no debate, tanto em sala de aula quanto nas
reuniões e conversas com os familiares de nossos alunos. Os professores
sabem muito bem que seus alunos, crianças e adolescentes têm capacidade
de pensar por si mesmos e têm experiência da resistência que muitas
vezes oferecem a seus ensinamentos e que a educação escolar só se
efetiva na discussão. Onde os alunos aceitam docilmente, sem discussão, o
que se lhes ensinam não é escola, é igreja, onde os cordeiros são
apascentados.
Se
conseguirmos implantar esse clima de debate aberto em nossas escolas,
certamente não teremos que nos preocupar com perseguições e truculência
de quem não quer que nossos alunos pensem, só obedeçam aos “confiáveis”
ao regime. Quanto mais respirarmos diálogo, menor nossa preocupação com
denúncias. Se houverem, certamente cairão no ridículo, como caiu o
macarthismo, antes mesmo da morte de seu mentor.
Antonio Carlos Rodrigues de Moraes,
Professor aposentado
|
Sobre a "escola sem partido"
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